cândido, o filósofo

Caio Romano Guerra & Abilio Guerra

breves histórias da vida cotidiana #9, jan 2013

Quem disse que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço nunca pegou o metrô na hora do rush. Incômodo? Talvez. Mas com ele vem a sensação de massa, como diria Elias Canetti, de pertencimento ao todo. Fundem-se os indivíduos e a vida torna-se una, indivisível. Cândido pensava coisas que pareciam escritas enquanto sentia umcalor confortante comprimido no meio de braços, pernas, ombros, orelhas, seios, narizes e cotovelos. O comboio se esvazia na penúltima estação e o velho professor de filosofia, ao se apalpar, percebe que carteira e celular sumiram.